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Boteclando

7 razões para lavar a alma num boteco alemão (e uma para brindar à Coreia)

Miguel Icassatti

28/06/2018 00h44

Hofbrauhaus em Belo Horizonte / Foto: divulgação

Tá certo, a gente só vai se sentir vingado para valer quando golear a Alemanha numa semi-final de Copa do Mundo disputada lá, pelo mesmo placar – e com direito ao título em cima da Argentina. Mas há que reconhecer que de comida de bebida os gringos entendem. Por isso, o blog apresenta um 7 x 1 boemiogastronômico inspirado nos nossos coirmãos germânicos:

  1. Embora a oferta de bares e restaurantes alemães por nossas bandas seja meio chinfrim e cheia de clichês – não me refiro à qualidade dos endereços, mas à diversidade gastronômica, tão sem inspiração quanto a bolinha jogada pelo Ozil e companhia – é difícil resistir a um bom eisbein com chucrute, como o do Bar do Alemão, em Itu. O centenário bar é famoso por causa do gigante filé a parmigiana, mas eu prefiro o joelho de porco assado que, ali, na filial de Campinas e na casa de São Paulo, é servido com a pele pururucada.
  1. Pela proximidade com os mares Báltico e do Norte, cidades como Hamburgo e Hannover contam com uma vasta oferta de pescados e frutos do mar, além de muitos vegetais. Não há no mundo aspargos mais gostosos que os alemães, colhidos na temporada de abril a junho. Servidos frescos com algumas fatias de presunto cru nas são a companhia perfeita para uma cerveja no verão berlinense em uma esplanada dos borbulhantes bares e cafés do lindo bairro do Mitte.
  1. Cidades cosmopolitas como, justamente, Hamburgo e Berlim recebem influência de diversas culturas – há restaurantes de culinárias do mundo todo, e que atendem a bolsos abastados e mais vazios. Graças à presença da comunidade turca, por exemplo, o kebab é uma comida de rua boa e barata tão difundida quanto o salsichão no pão (wurst, currywursy e suas variações), que se come por menos de 5 euros em qualquer biboca.
  1. Por falar em biboca, sim, existem botecos pé-sujo por lá. São chamados de "kneipe". Em Hamburgo, fui apresentado a um deles por meus amigos Teresa e Wolf. Trata-se do Dreyer, na região boêmia de St. Pauli. O engraçado é que fiquei sócio do bar. Explico: tal como aqui, lá não é permitido fumar em lugares fechados, exceto em algumas entidades privadas. Fumar num bar não pode, mas num clube, tudo bem. Velhacos, o que os donos do Dreyer fizeram? Criaram um certo Clube da Fraternidade Entre os Povos e passaram a oferecer aos fregueses o direito de fumar, desde que se associem ao clube. Basta que se pague a taxa de adesão no valor de 1 Euro.
  1. Aberto em 1923, o Dreyer tem um salão pequeno, que lembra um pub. Funciona de portas fechadas e o que chama atenção ali é a coleção de relógios – há uns 200, espalhados pelas paredes e armários tipo cristaleiras. Ali comi pela primeira vez um "frikadelle", que é uma tradicional receita dos botequins locais, um bolinho de carne frito, do tamanho de um bifão de hambúrguer, temperado com páprica, ervas, cebola e manteiga. Come-se frio, o que à primeira mordida é um pouco estranho, acompanhado de mostarda escura.
  1. Um petisco parecido com o frikadelle é o bouletten. Para falar a verdade, a diferença está mais no tamanho e no formato – o bouletten é uma almôndega de carne de porco. Gosto muito da porção que o Werner serve no Zur Alten Muhle, botecaço que lembra uma taberna. O próprio Werner, aliás, é quem fica no balcão a administrar a chopeira. É um craque, e seu chope, dos melhores.
  1. Por falar em chope, em cerveja, Belo Horizonte mantém a única filial latino-americana da mais famosa cervejaria de Munique, a Hofbrauhaus. O salão amplo até lembra a casa que está instalada há cinco séculos numa praça central da capital da Baviera, mas a atmosfera da casa original, embora por demais turística, é inigualável. Na unidade mineira, porém, são produzidas as próprias cervejas claras, escuras, de trigo e sazonais.

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  1. E para não dizer que não falei dos vencedores, na Barra Funda fica o Komah, um dos melhores restaurantes da cidade atualmente, cuja especialidade é a culinária coreana. À frente da casa está o chef Paulo Shin, que montou um cardápio baseado em receitas de mãe, que, aliás, mantém um sítio na região da Serra da Cantareira e fornece vegetais para o local. O excelente menu-degustação inclui itens como o surpreendente yukhoe (bife tartare feito com carne bovina congelada e gema curada no shoyu), o kimchi bibimbap (omelete cremosa com arroz apimentado), o samgiopsal (barriga de porco assada) e o galbi jim (costela de boi com shoyu e gengibre).

 

Bar do Alemão. Rua Paula Souza, 575, centro, Itu.

Dreyer. Martin Luther Strasse, 4, St. Pauli, Hamburgo.

Hofbrauhaus. Avenida do Contorno, 7613, Lourdes, Belo Horizonte.

Komah. Rua Cônego Vicente Miguel Marino, 378, Barra Funda, São Paulo.

Zur Alten Muhle. Rua Princesa Isabel, 102, Brooklin, São Paulo.

Sobre o autor

Miguel Icassatti é jornalista e curador da Sociedade Paulista de Cultura de Boteco. Foi crítico de bares das revistas “Playboy” (1998-2000) e “Veja São Paulo” (2000), editor-assistente e um dos fundadores do “Paladar/jornal O Estado de S. Paulo” (2004 a 2007), editor dos guias “Veja Comer & Beber” em 18 regiões brasileiras (2007 a 2010), editor-chefe do Projeto Abril na Copa (Placar) e da revista “Men’s Health Brasil” (2011 a 2014). É colunista de “Cultura de Boteco” da rádio BandNews FM e correspondente no Brasil da “Revista de Vinhos” (Portugal).

Sobre o blog

Os petiscos, as bebidas, os balcões encardidos, as pessoas e tudo que envolve a cultura de boteco e outras histórias de bar.