Um boteco é uma ideia
Longe de mim querer contradizer o que escrevi no primeiro post da encarnação atual deste blog, em fins de maio passado, quando tentei definir objetivamente o que é um boteco. Nestes tempos em que, tudo indica, o jornalismo será salvo pelas agências de fact-checking, não serei eu a cair em contradição.
Mas convém dizer que a objetividade, tal qual toda unanimidade rodrigueana, é burra. De modo que, parafraseando Luiz Inácio, um boteco é uma ideia.
Digo mais, um boteco é uma ideia, uma emoção.
O Totò, por exemplo. Objetivamente falando, essa casa instalada no meio do quarteirão de uma rua tranquila na Vila Olímpia é um restaurante de culinária italiana, onde a chef e proprietária Luiza Helena Fitipaldi Bistolfi prepara e serve massas muito boas (gosto especialmente do carbonara) e petiscos deliciosos, entre eles os bolinhos de alho-poró.
Mas, toda vez que vou até lá (e faz um bom tempo que não me dou este presente), tomo o Totò como um boteco. Afinal, sigo direto para o canto esquerdo do balcão retangular, aboleto-me na banqueta, cumprimento o Alfredo e vou logo ao briefing: "não tendo maracujá nem goiaba, fique à vontade. E quero com cachaça, é claro".
Alfredo Martins é um excepcional fazedor de caipirinhas. Observar a meticulosidade com que ele corta em finíssimas fatias os cajus, as kinkans, os umbus e os limões-cravo – que ficam devidamente acondicionados, cada uma no seu quadrado – para montar os drinques é um saboroso pré-aperitivo (se é que isso existe…).
Levo um bom tempo para beber a caipirinha do Alfredo. Naquela fase em que restam no (belo, por sinal) copo apenas o gelo quase derretido, o cheiro da caninha e as frutas maceradas e encharcadas, não me constranjo, espeto os pedaços com a ponta do mexedor e vou comendo uma a uma, numa variação etílica e pessoal do "fare la scarpetta", o hábito italiano de raspar o prato com o miolo do pão.
O Totò, para minha sorte, fica a duas quadras da maternidade São Luiz, onde nasceram minhas duas filhas.
A caçula completa 3 anos hoje. Cantamos parabéns à mesa do jantar, em casa, mas eu não poderia deixar de lembrar do Totò, onde ergui o primeiro brinde às duas maiores emoções da minha vida.
Vai lá:
Totò. Rua Doutor Sodré, 77, Vila Olímpia.
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