Um bar, um time, um dibre
Restaurou minha fé quando menino, cuidou de mim quando adolescente e, quando me tornei um jovem adulto, o bar me acolheu de vez. "Bar Doce Lar", J. R. Moehringer
Naqueles anos incríveis, os sábados começavam com um misto frio (três fatias de queijo prato e três de presunto no pão francês às vezes dormido) mais uma garrafa de guaraná e três fichinhas pro jogo de bilhar.
Até o meio-dia, eu os veria conquistar duas vitórias seguidas, primeiramente do Segundo Quadro e, depois, do Primeiro Quadro. Aos 8 anos e alçado ao posto de mascote do Proálcool Futebol Bebuns e Mulher, o maior time de futebol de salão de todos os tempos, sou capaz de jurar que aquele time jamais perdeu um jogo.
O Proálcool tinha sido formado por um grupo de amigos que haviam e/ou nascido e/ou crescido no Belenzinho, bairro da zona Leste onde minha família foi morar, quando voltou a São Paulo depois de dois anos, sem meu pai. Toninho, Clóvis, Marquinho, Zinho, Molla, Paulinho, Bê, Roberto, Carlão e Gerente, entre outros, esbanjavam categoria e algumas paulistinhas, no vigor de seus 20 e tantos ou 30 e poucos anos. Era 1984 e o Proálcool recebia os adversários da Liga do Batalha no caldeirão da quadra da AAA Brasinha, na Mooca.
Ao final dos jogos, o time saía em carreata para o almoço. O destino podia ser uma churrascaria mooquense na Avenida Paes de Barros, um boteco do qual já não me lembro o nome, o Peru's ou o Formiga (todos no Belém) ou ainda o Boi na Brasa, na esquina das ruas Marquês de Itu e Bento Freitas.
Quem furasse alguns semáforos e chegasse primeiro, além de garantir a mesa, já adiantava parte do pedido: porção de linguiça (R$ 29,90), batata frita à portuguesa (R$ 17,90) e a salada de agrião (R$ 9,90).
Depois vinham a picanha à Boi na Brasa (com alho e mais agrião, R$ 92,10), a alcatra (R$ 71,90, com arroz e batata frita) e algum outro corte que era assado na churrasqueira, enquanto os copos de caipirinha (R$ 15,40) iam se multiplicando sobre a mesa, assim como as canecas de alumínio nas quais era servido o chope (R$ 8,70).
Passaram-se vinte anos sem que eu voltasse ao Boi na Brasa, até que o chef Benny Novak (do ICI Bistrot) me disse, durante uma entrevista, em 2004 ou 2005, talvez, que costumava comer a bisteca do Boi na Brasa.
Inaugurado em 1975, o Boi na Brasa é um sobrevivente na região central, num pedaço da então romântica Boca do Lixo.
Desde a dica do Benny, voltei a frequentar regularmente o Boi na Brasa e perdi a conta das vezes em que, confesso, deixei a marca de meus incisivos na borda das canecas de chope, bebida que passou a acompanhar meu invariável pedido: bisteca (R$ 55,90, com farofa) com as fritas à portuguesa.
Lembro-me especialmente do sábado em que eu mesmo puxei uma carreata pós-futebol, desde o Clube de Regatas Tietê, onde batia uma bolinha com meus amigos do Pari. Era a minha vez de fazer as honras. E de outro sábado, num período pré-carnaval, em que apresentei o Boi na Brasa às minhas filhas.
Ao tê-las visto correndo por entre as mesas, depois da inestimável ajuda dada a este carnívoro de meia-idade para vencer a bisteca, transportei-me aos anos invencíveis do Proálcool quando, já satisfeito, eu pegava a bola e saía dibrando as pernas das cadeiras pelo salão. Aquele time restaurou minha fé quando menino.
Vai lá:
Boi na Brasa. Rua Marquês de Itu, 188, Vila Buarque.
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