Choro, bolinho de bacalhau e Chuchu
Faz muito, muito tempo, mas eu me lembro que o que me chamava atenção quando o Apiacás-Patriarca (7267) parava no semáforo na esquina da Rua Apinajés era a fileira de bacalhaus a decorar a entrada do boteco que ficava debaixo daquela marquise.
Naquela época, nem de bacalhau eu gostava. Era criança e cruzava a cidade desde o Pari para acompanhar minha mãe às consultas à Doutora Ignez, dentista com a qual Dona Maria do Carmo trocou (talvez ainda troque) inúmeras receitas de bolo, biscoito, lasanha.
Quando, já no início dos anos 2000, fui morar ali na Vila Pompeia – e chegava em casa muitas vezes a bordo do 7267 – é que reparei que já não havia mais aquela bacalhoada pendurada sobre a cabeça de quem adentrava ao bar. Foi quando descobri que o próprio atendia pelo nome de Requinte Vinho Bar.
Aberto em 1967, o boteco era conhecido na vizinhança como Bar do Seu Antônio e ganhou fama ao longo dos anos graças ao bolinho de bacalhau e à bacalhoada servida às sextas-feiras.
Confesso que não me empolguei tanto assim na primeira vez que comi o bolinho dali. Se bem me lembro, não tinha sido frito na hora, estava quase frio quando saiu da estufa.
Eis que, uns meses atrás, resolvi dar uma segunda chance ao Requinte e aportei no balcão numa noite fria de abril passado. Pedi um bolinho, chamei uma cerveja e uma dose de cachaça (acho que era João Mendes) e fiquei a conversar com o balconista – um senhor que, perdão, fugiu-me o nome. Além de mim, não havia talvez mais um ou dois fregueses.
Ele me contou que era o namorado de uma das donas do bar (a Yolanda), que estava ali dando uma força e me convidou a voltar numa noite de segunda-feira, quando acontece uma roda de choro a partir de umas 9 e meia da noite.
Aceitei o convite e baixei por lá numa segunda-feira, depois do meu futebol.
Que maravilha de cenário: músicos sentados no fundo do salão a dedilhar clássicos, casa cheia, mesas debaixo da marquise lotadas. E, sim, bolinho de bacalhau (9 reais) frito na hora, graúdo, gostoso, torresminho e porção de pastel de carne e de queijo também de responsa e cerveja gelada (Heineken, 14 reais).
Tenho tido sorte. Mesmo com o bar lotado, sempre sobra um espaçozinho na curva do balcão e é ali que me instalo, sendo sempre muito bem atendido pela Chuchu, irmã da Yolanda. Yolanda cuida mais da cozinha, é a dona da receita do bolinho, e Chuchu se vira para atender a moçada, fechar as contas e passar o cartão na maquininha.
Não há maneira melhor de começar a semana nesta São Paulo ora chuvosa, agora chorosa.
Vai lá:
Requinte Vinho Bar. Avenida Professor Alfonso Bovero, 560, Vila Pompeia.
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