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Boteclando

Próxima estação: boteco (ou 8 botecos acessíveis de trem)

Miguel Icassatti

15/11/2018 13h59

O blogueiro e a irmã caçula a bordo do vagão-boteco / Foto: Miguel Icassatti

 

Na semana passada, percorri mais uma vez o trecho entre as cidades alemãs de Frankfurt e Hannover, onde vive minha irmã, a bordo do ICE, o trem de alta velocidade. Na ida e na volta, foram 2 horas e 15 minutos de viagem tranquila, com uma ou duas paradas ao longo dos 350 quilômetros.

A caminho de Hannover, embarquei direto na estação do aeroporto de Frankfurt e me acomodei no vagão-bistrô. Pedi um copo de cerveja, uma porção de bratwurst (salsichão), liguei meu computador e, quando dei por mim, cheguei no meu destino. No percurso de volta, matutino, fiquei só com um café expresso – e com inveja de um guerreiro que, antes das 11 da manhã, conseguiu deitar quatro garrafas de cerveja.

Embora por aqui o trem-bala esteja mais para um trem-fantasma – imagina na Copa – esse recentíssimo #tbt acabou por me fazer lembrar que é, sim, possível chegar a grandes botecos paulistanos a bordo dos vagões da CPTM (em alguns casos, com baldeação no metrô ou uma caminhada complementar). Neste feriadão, portanto, pode ser um bom programa percorrer São Paulo sobre trilhos, tendo como recompensa aquela indispensável mesinha na calçada, aquela cerveja, aquela feijoada. Vamos a eles?

Bar Léo
O pai de todos os botecos fica a não mais do que 5 minutos de caminhada da Estação da Luz. Aberto em 1940, o bar serve um dos melhores chopes (R$ 9,20) da cidade e, aos sábados, um impecável bolinho de bacalhau.
Rua Aurora, 100, Santa Ifigênia.

Del Mar
A meio quarteirão de distância do Bar do Léo e, portanto, pertinho da Estação da Luz, este boteco costumeiramente tranquilo mantém no cardápio algumas receitas de raiz espanhola, como o puchero e a paella (R$ 79,00, para duas pessoas). E o chope, excelente, custa R$ 8,00).
Rua dos Andradas, 161, Santa Ifigênia.

Peru's
Aqui está o melhor churrasquinho (pão com carne, que fique claro) do mundo. O jacaré, que leva alface, tomate, filé, maionese da casa e um inigualável molho de repolho (R$ 19,00), é a razão que faz este blogueiro cruzar a cidade algumas vezes por ano, e não necessariamente de trem, só para abocanhá-lo ao balcão. A partir da estação Belém do metrô (à qual é possível baldear de trem na estação Tatuapé) são 10 minutos a pé.
Rua Cajuru, 1164, Belém.

Valadares
Cinco quarteirões separam a estação Água Branca deste incontornável boteco, com um dos balcões mais singelos e, por isso mesmo, acolhedores da cidade. Faça como eu: descole uma banqueta em frente à estufa e peça ao Mauricio para montar um pratinho com um pouco de torresmo, batata serragem, jiló e marisco. E uma cerveja, é claro. Se preferir uma mesa, tente uma na calçada e chame aquela porção de frango a passarinho (R$ 40,00).
Rua Faustolo, 463, Vila Romana.

Bar do Magrão
A partir da estação Tamanduateí, faça a baldeação e tome a linha verde do metrô. Desça na estação Sacomã e siga a pé por cinco quarteirões até chegar a este clássico do Ipiranga. Tão clássico quanto os sons de Rolling Stones, Led e outras bandas que o anfitrião coloca nas caixas de som. O Magrão montou uma respeitável carta de cervejas, com mais de 100 marcas, entre as quais a Wals Corn Hop IPA (R$ 29,00). Para comer, comece com uma empadinha de palmito e siga para o escondidinho de bacalhau.
Rua Agostinho Gomes, 2988, Ipiranga.

Bar das Batidas
A área onde seria instalada a estação Pinheiros ainda era uma várzea, às margens do rio Pinheiros, e este boteco já estava de portas abertas desde os primeiros anos da década de 1950, pelas mãos do velho Narciso Moreno, que Deus tenha o "Sócio" ao seu lado. A casa tem outros donos há alguns anos, mas a cerveja mantém-se gelada, o salão continua com aquela cara de pé-sujo, há bons PFs no almoço e o sanduíche de calabresa sai por R$ 19,00.
Rua Padre Carvalho, 799, Pinheiros.

 

Bar do Berinjela: bolinho de alheira e bolinho de berinjela / Foto: Miguel Icassatti

 

Bar do Berinjela
A partir da estação Tatuapé, são 20 minutos de caminhada. É trote puxado, mas vale a pena. Ali, no diminuto salão, José Manuel, filho do finado Berinjela, comanda este boteco na companhia valiosa da mulher e dos filhos. Serve deliciosos salgados, como o quibe de adivinhe… berinjela, o bolinho de berinjela e até mesmo uma boa berinjela à parmegiana.
Praça Vinte de Janeiro, 67, Tatuapé.

Botequim do Hugo
Ao desembarcar da estação Vila Olímpia, siga pela Avenida Cidade Jardim até a Rua Iguatemi, dobre à direita e vire à esquerda na Pedroso Alvarenga. O rolê vai levar uns 15 minutos. Além da receptividade dos anfitriões, os irmãos Hugo e Emiliana, são motivos para conhecer o boteco: os pasteis da Zizi, o buraco-quente com gorgonzola (R$ 9,00), a cerveja gelada (Original, R$ 12,00) e o salão preso no tempo, talvez ali nos anos 1920, quando o imóvel passou às mãos dos antepassados da família. É uma viagem.
Rua Pedroso Alvarenga, 1014, Itaim Bibi.

Sobre o autor

Miguel Icassatti é jornalista e curador da Sociedade Paulista de Cultura de Boteco. Foi crítico de bares das revistas “Playboy” (1998-2000) e “Veja São Paulo” (2000), editor-assistente e um dos fundadores do “Paladar/jornal O Estado de S. Paulo” (2004 a 2007), editor dos guias “Veja Comer & Beber” em 18 regiões brasileiras (2007 a 2010), editor-chefe do Projeto Abril na Copa (Placar) e da revista “Men’s Health Brasil” (2011 a 2014). É colunista de “Cultura de Boteco” da rádio BandNews FM e correspondente no Brasil da “Revista de Vinhos” (Portugal).

Sobre o blog

Os petiscos, as bebidas, os balcões encardidos, as pessoas e tudo que envolve a cultura de boteco e outras histórias de bar.