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Boteclando

Boteco, carnaval e a economia da alegria

Miguel Icassatti

22/03/2019 19h45

Bloco da Véia, na Casa Avós / Foto: divulgação

 

Por mais que o carnaval 2019 seja assunto distante – alguém aí já está pensando no de 2020? –, acho interessante reparar no impacto e na relação da festa com os bares e botecos, sobretudo no caso de São Paulo.

Paulistanos de meia idade, como eu, irão se lembrar: há dez anos ou mais, ou menos, o carnaval era um feriado no qual as famílias viajavam à praia, os chegados à festa dividiam-se entre Rio, Salvador, Ouro Preto, Olinda e São Luís do Paraitinga, para citar alguns exemplos de destinos momescos. Ficava na cidade aquele que queria sossego, isolamento, ou estava duro demais para encarar a estrada. Eram poucos os blocos de rua a desfilar, seja na semana pré-carnavalesca, seja nos quatro dias oficiais. Com isso, muitos bares e restaurantes aproveitavam para dar folga à brigada.

Eis que nos últimos anos – e falo dos de 2016, 2018 e 2019, os quais passei na cidade – São Paulo passou por uma transformação e tanto. Não vou fazer aqui uma avaliação da festa, apontar erros e acertos da gestão pública, do fechamento de ruas, da qualidade dos blocos. Mas o fato é que os 520 blocos de rua que desfilaram no período, incluindo os fins de semana anterior e posteior ajudaram a injetar na economia da cidade o montante de R$ 1,9 bilhão, de acordo com a Prefeitura.

Moradores ficaram por aqui, turistas desembarcaram e lotaram hoteis, restaurantes e… botecos, que faturaram muito quando, de uma maneira ou outra, envolveram-se com a festa.

A Cervejaria Ideal, por exemplo, teve um movimento 25% maior no dia em que foi ponto de concentraçao do bloco Achados em Perdizes.

Na Casa Verde, o bloco Azaração Casaverdense montou uma praça de alimentação com a presença de bares da região, entre os quais o Cariri, e de outros bairros, a exemplo da Academia da Gula. Também na ZN, o FrangÓ faturou 20% a mais durante os desfiles do bloco Urubó – que, aliás, é apoiado pelo bar. Nos fins de semana anteriores, em compensação, durante ensaios e desfiles de agremiações menos tradicionais, e com o Largo da Matriz fechado para o tráfego de veículos, a casa recebeu poucos clientes.

Mas um excelente exemplo de que vale a pena juntar carnaval e boteco é o da Casa Avós, brew pub localizado na Vila Ipojuca, que produz boas cervejas lagers artesanais. O bar-cervejaria lançou o Bloco da Véia, no dia 23 de fevereiro, e viu o caixa se multiplicar em nada menos que 400%!

Para mim, não há dúvida: vale a pena investir na exonomia da alegria.

Vai lá:

Casa Avós. Rua Croata, 679, Vila Ipojuca.

Cervejaria Ideal. Rua Ministro Ferreira Alves, 203, Perdizes.

FrangÓ. Largo da Matriz de Nossa Senhora do Ó, 168, Freguesia do Ó.

Sobre o autor

Miguel Icassatti é jornalista e curador da Sociedade Paulista de Cultura de Boteco. Foi crítico de bares das revistas “Playboy” (1998-2000) e “Veja São Paulo” (2000), editor-assistente e um dos fundadores do “Paladar/jornal O Estado de S. Paulo” (2004 a 2007), editor dos guias “Veja Comer & Beber” em 18 regiões brasileiras (2007 a 2010), editor-chefe do Projeto Abril na Copa (Placar) e da revista “Men’s Health Brasil” (2011 a 2014). É colunista de “Cultura de Boteco” da rádio BandNews FM e correspondente no Brasil da “Revista de Vinhos” (Portugal).

Sobre o blog

Os petiscos, as bebidas, os balcões encardidos, as pessoas e tudo que envolve a cultura de boteco e outras histórias de bar.