Topo

Boteclando

Se essa rua, se essa rua fosse um boteco...

Miguel Icassatti

30/05/2019 16h05

Frango a passarinho da Camelo: clássico / Foto: divulgação FB

Se a Rua Pamplona fosse um boteco, seria um boteco dos bons, um clássico. Foi a amiga Sofia Carvalhosa quem, há uns bons anos – acho que foi quando a Vinci, loja de vinhos, passou a ocupar um imóvel nessa rua, no terceiro quarteirão depois da Paulista, na rebarba dos Jardins –, mencionou o charme da Pamplona.

No que concordei. As calçadas, sobretudo nesse lado dos Jardins e embora em declive, são gostosas de caminhar, o comércio de rua parece resistir bravamente ao e-commerce – tem loja de roupas, perfumaria, mercadinho, açougue, farmácia, relojoaria, armarinhos – e opções nas quais comer e beber não faltam. Por duas vezes, até, quase morei nela, em dois endereços diferentes, um bem no comecinho, ali na Bela Vista, e outro lá embaixo, quase em frente ao Shopping Jardim Pamplona.

O Jardim Pamplona, aliás, ocupa um logradouro afetivo. Ali ficava o Eldorado, que, há quarenta anos, quando minha mãe dava aula em uma escola no Itaim Bibi, era o super ou, melhor, hipermercado no qual nós fazíamos a compra do mês. Meu pai me buscava na escola, cruzávamos a cidade pela Nove de Julho e baixávamos ali. Antes da compra – ou, talvez, enquanto minha mãe ia às compras eu e meu pai ficávamos no balcão do restaurante comendo filé com fritas. E eu bebia também Fanta Limão.

O balcão do restaurante do Eldorado foi meu primeiro boteco naquela rua.

Uns vinte anos atrás, já de posse do certificado de reservista, passei a fequentar a Osteria Generale e da Trattoria do Sargento, com especial predileção por essa casa de patente mais baixa. Jovem, durango e da paz, eu gostava de ver as camisetas de times de futebol penduradas, bem como as fotos de fregueses ilustres nas paredes. À mesa, o espaguete à calabresa e o penne à matriciana, entre outras massas cobertas de molhos densos e amanteigados garantiam a mim boa dose de carboidrato a bom preço.

Já com um pouco mais de grana no bolso, passei às pizzas da Camelo, uma das minhas preferidas até hoje na cidade. Mas o quê de boteco que existe ali, sem dúvida, vem da deliciosa porção de frango a passarinho – pedida obrigatória, assim como o bom chope. A partir daí, beleza, vamos ao cardápio de pizzas.

Capa do cardápio do Cedro do Líbano: esfiha old-fashioned / Foto: Miguel Icassatti

No quarteirão acima, o restaurante Cedro do Líbano permanece servindo boas esfihas, assim como é o quibe frito, e ótima abobrinha recheada. O salão old-fashioned, no qual se destacam lindas fotos de cidades libanesas, é um convite para se fazer o repasto ali mesmo. Mas se o pedido for para viagem, não será nada mau ficar no balcão e pedir um chope.

A quem levou em conta minha sugestão de um passeio a pé pela Pamplona será impossível não reparar na fachada do Alfama dos Marinheiros – um restaurante que é craque no merchand, quem assistia a Mesa Redonda do Avallone haverá de concordar comigo –, com aquele enorme aquário e o porteiro na escada a receber os clientes, devidamente fardado como o Popeye.

Presunto cru do Alfama dos Marinheiros / Foto: divulgação FB

Na forma e na hora de entregar a conta, o Alfama está longe de ser um boteco, é verdade, mas para aqueles dias de bolso cheio e sentimento nostálgico, vale a pena estacionar numa das mesas e pedir um prato de presunto cru ou uma porção de bolinho de bacalhau, devidamente acompanhados de uma taça de vinho. Por instantes, a Pamplona será Lisboa.

Vai lá:

Alfama dos Marinheiros. Rua Pamplona, 1285, Jardim Paulista.

Camelo. Rua Pamplona, 1873, Jardim Paulista.

Cedro do Líbano. Rua Pamplona, 1701, Jardim Paulista.

Osteria Generale. Rua Pamplona, 957, Jardim Paulista.

Trattoria do Sargento. Rua Pamplona, 1354, Jardim Paulista.

Vinci Vinhos. Rua Pamplona, 917, Jardim Paulista.

 

Sobre o autor

Miguel Icassatti é jornalista e curador da Sociedade Paulista de Cultura de Boteco. Foi crítico de bares das revistas “Playboy” (1998-2000) e “Veja São Paulo” (2000), editor-assistente e um dos fundadores do “Paladar/jornal O Estado de S. Paulo” (2004 a 2007), editor dos guias “Veja Comer & Beber” em 18 regiões brasileiras (2007 a 2010), editor-chefe do Projeto Abril na Copa (Placar) e da revista “Men’s Health Brasil” (2011 a 2014). É colunista de “Cultura de Boteco” da rádio BandNews FM e correspondente no Brasil da “Revista de Vinhos” (Portugal).

Sobre o blog

Os petiscos, as bebidas, os balcões encardidos, as pessoas e tudo que envolve a cultura de boteco e outras histórias de bar.