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Boteclando

Leiden e o gim que não bebi com meu avô

Miguel Icassatti

07/06/2019 00h34

Leiden: terra natal do gim / Foto: Holland.com

 

Leiden é uma cidade holandesa de 121 mil habitantes, nos arredores de Haia. Ali nasceu o grande pintor e gravurista Rembrandt (1606-1669) – aliás, há cinco gravuras dele expostas na Fundação Ema Klabin Casa Museu, na esquina da Avenida Europa com a Rua Portugal.

De Leiden partiu em 1620 rumo à América do Norte um grupo de refugiados religiosos ingleses, os "Pilgrims Fathers", que iriam fundar a colônia de Plymouth, no futuro estado da Nova Inglaterra, território que mais tarde daria origem aos Estados Unidos.

A Universidade de Leiden, fundada em 1575, é a mais antiga da Holanda e, ainda hoje, uma das mais prestigiadas instituições de ensino do mundo. Foi em seus laboratórios – segundo consta no livro Os Segredos do Gim, de João Osvaldo Albano do Amarante, Mescla Editorial, lançado em 2016 –, que, no século XVII, o professor alemão Franciscus Sylvis de la Boe produziu um medicamento a base de zimbro para tratar dores de estômago, artrite, cálculo biliar e gota. Esse remédio era o gim, que mais tarde viria a ser popularizado na Inglaterra.

De acordo com a legislação brasileira, "gim é uma bebida com graduação alcoólica de 35% a 54% obtida pela redestilação do álcool etílico potável de origem agrícola" (no Brasil, por exemplo, produz-se gim a partir da cana de açúcar), na presença de bagas de zimbro, com adição ou não de outra substância vegetal aromática. Na Europa, há gins que ultraassam esse limite alcoólico, como é o caso do Blackwood's Vintage Dry Gin, que tem 60% de graduação alcoólica.

Negroni: clássico feito com gim / Foto: Miguel Icassatti

Veio da Europa, aliás, e mais precisamente de Portugal e da Espanha, a atual onda de consumo de gim nos bares brasileiros. Base de drinques clássicos como o Dry Martini e o Negroni –, a bebida vem sendo muito consumida nesses países na forma de Gim Tônica, também um drinque clássico homologado pela Internation Barmen Association (IBA).

Na cidade do Porto, por exemplo, o Gin House segue firme e forte desde 2014, ao menos, quando lá estive pela primeira vez, com sua impressionante oferta de 200 marcas de gim.

Em São Paulo, como não poderia deixar de ser, pipocaram bares especializados na bebida, casos do G&T, do Só Shots e do Periquita & Gin Club.

E neste sábado, 8 de junho, acontece na cidade pela quarta vez a festa World Gin Day, das 16h à meia-noite, na Casa Bossa (Shopping Cidade Jardim). Trata-se de uma festa regada a jazz ao vivo e DJ sets que celebra o dia mundial do gim, comemorado em 11 de junho. Com ingressos a 60 reais, o evento reunirá dez barmen, que irão preparar drinques com diferentes marcas de gim. Em paralelo, acontecem palestras e workshops, nos quais é possível adquirir mais conhecimento sobre a bebida.

Voltando a Leiden, foi lá que nasceu meu avô Antonius, no ano de 1905. Ele morreu em São Paulo, aos 83 anos. Jogávamos futebol de botão na mesa da sala – eu sempre roubava para que ele ganhasse de mim – mas ele se foi antes de ter me dado a honra de acompanhá-lo em um Dry Martini. Lembro que ele gostava de café coado e de uma cerveja.

Vai lá:

World Gin Day. Sábado, 16h à 0h, Casa Bossa (Shopping Cidade Jardim), worldginday.com.br

Sobre o autor

Miguel Icassatti é jornalista e curador da Sociedade Paulista de Cultura de Boteco. Foi crítico de bares das revistas “Playboy” (1998-2000) e “Veja São Paulo” (2000), editor-assistente e um dos fundadores do “Paladar/jornal O Estado de S. Paulo” (2004 a 2007), editor dos guias “Veja Comer & Beber” em 18 regiões brasileiras (2007 a 2010), editor-chefe do Projeto Abril na Copa (Placar) e da revista “Men’s Health Brasil” (2011 a 2014). É colunista de “Cultura de Boteco” da rádio BandNews FM e correspondente no Brasil da “Revista de Vinhos” (Portugal).

Sobre o blog

Os petiscos, as bebidas, os balcões encardidos, as pessoas e tudo que envolve a cultura de boteco e outras histórias de bar.