Topo

Boteclando

Boemia na telona - parte I: 6 filmes brasileiros e seus bares inesquecíveis

Miguel Icassatti

20/04/2020 18h41

Bar Esperança: boemia carioca e prêmios no Festival de Gramado / Fotos: reprodução

De Stanley Kubrick a Ugo Giorgetti, de Woody Allen a Carlos Reichenbach, muitos cineastas dirigiram cenas memoráveis de seus filmes em bares e botecos mundo afora. Às telas, eles levaram bares de verdade, serviram-se de outros apenas como locação, sem revelar o nome, e criaram ainda os botecos cenográficos que, em alguns casos, até que mereciam realmente existir. O blog reuniu quase duas dezenas de exemplos, tanto nos filmes nacionais quanto nos estrangeiros, e apresenta aqui em dois episódios, ops!, posts.

Vencedor dos prêmios de melhor roteiro, melhor atriz (Marília Pêra) e melhor atriz coadjuvante (Silvia Bandeira) no Festival de Gramado, Bar Esperança, o Último que Fecha (1983) foi escrito e dirigido por Hugo Carvana, que também atuou na película. Mais do que uma locação, o fictício Bar Esperança – que, a bem da verdade, faz lembrar a atmosfera do Jobi e do Bracarense, entre outros botecos cariocas –era um ponto de encontro de boêmios, artistas e intelectuais localizado no bairro de Ipanema, Rio de Janeiro. Prestes a fechar as portas, para dar lugar à construção de um prédio, foi palco de brigas de casal, noites festivas e diálogos engraçados entre os fregueses. Na época de seu lançamento, foi inevitável a analogia política entre o nome do bar, e o próprio decorrer do filme, com o período ditatorial pelo qual o Brasil vivia. Revê-lo é algo que nos faz comparar com o Brasil de hoje.

Também filmado na Zona Sul do Rio de Janeiro, mas em Copacabana, Fulaninha (1986) tem muitas, e impagáveis, cenas rodadas no Bar do Camarão. No filme de David Neves, esse típico boteco carioca reunia um grupo de amigos de meia-idade que praticavam a mais pura filosofia de bar, em meio a doses de uísque e bolinhos de bacalhau. Um desses personagens, o cineasta Bruno (Claudio Marzo), se encanta por uma adolescente que passa diariamente pela porta do bar, a tal Fulaninha (Mariana de Moraes). A música-tema do filme é de Paulinho da Viola.

Alma Corsária: A Pastelaria Espiritual é cenário marcante

O cineasta Carlos Reichenbach conseguir reproduzir em Alma Corsária (1993), vencedor de melhor filme do Prêmio APCA, um autêntico boteco pé-sujo do centro de São Paulo. Por trás da fachada na qual se destaca o letreiro em neon, a Pastelaria Espiritual, em destaque nos dez primeiros minutos do filme, exibe um indefectível balcão de fórmica azul-calcinha e branco, garrafas enfileiradas junto à parede, banquetas com assento de plástico, aqueles imensos coadores de café com a carcaça cromada, mesa de bilhar, paredes de azulejo branco e piso de ladrilho hidráulico. China, o anfitrião, serve pastel frito na hora e cachaça em dose.

Bar do Aurélio, de Boleiros: alusão ao saudoso Bar do Elias

Já o Bar do Aurélio de Boleiros – Era Uma Vez o Futebol (1998 e 2006) é claramente inspirado no saudoso Bar do Elias, boteco paulistano que era localizado em frente ao estádio do Palmeiras e, obviamente, um reduto de torcedores alviverdes. O diretor Ugo Giorgetti reuniu um elenco formado por nomes como Flavio Migliaccio, Cassio Gabus Mendes, Lima Duarte, Sócrates, o narrador Silvio Luiz e Denise Fraga, entre outros, para contar as memórias dos personagens, sempre ligadas ao futebol, é claro – em tempos de quarentena, eis aqui uma boa pedida para os carentes de boteco e futebol…

Boteco do Zulmiro: ficção no centro de Curitiba

Rodado em Curitiba, Estômago (2007), de Marcos Jorge, mostra logo nas primeiras cenas o personagem Raimundo Nonato (João Miguel) começa fritando coxinhas no Boteco do Zulmiro. Esse bar, na verdade, era o finado Bar do Catarina, localizado na Rua Saldanha Marinho, no centro da capital paranaense. Fundado em 1930, o Bar Palácio também serviu de locação para o filme, mas com o nome de restaurante Boccaccio, de cozinha italiana.

Bar Harmonia, de E aí, comeu?: um boteco imaginário que poderia ser real

Até mesmo a onda dos botecos-chiques, aqueles que apostam num ambiente retrô, em homenagem aos bares cariocas dos anos 1950, tem seu representante no cinema nacional. Trata-se do Bar Harmonia, ponto focal da comédia E aí, comeu? (2012). Dirigido por Felipe Joffily e adaptado da peça de teatro homônima escrita por Marcelo Rubens Paiva, o título tem muitas cenas filmadas ao redor de uma mesa do boteco, onde se reúne o trio de personagens interpretados por Bruno Mazzeo, Emilio Orciollo e Marcos Palmeira. Embora esse seja um bar fictício, há uma das cenas mais lembradas do filme, aquela em que os personagens de Marcos Palmeira e Dira Paes abrem um espumante na cinematográfica mureta em frente ao Bar Urca, que fica no bairro de mesmo nome.

No post seguinte, segue uma lista de 10 (ou mais) filmes e seus bares maravilhosos.

Corta!

 

 

 

Sobre o autor

Miguel Icassatti é jornalista e curador da Sociedade Paulista de Cultura de Boteco. Foi crítico de bares das revistas “Playboy” (1998-2000) e “Veja São Paulo” (2000), editor-assistente e um dos fundadores do “Paladar/jornal O Estado de S. Paulo” (2004 a 2007), editor dos guias “Veja Comer & Beber” em 18 regiões brasileiras (2007 a 2010), editor-chefe do Projeto Abril na Copa (Placar) e da revista “Men’s Health Brasil” (2011 a 2014). É colunista de “Cultura de Boteco” da rádio BandNews FM e correspondente no Brasil da “Revista de Vinhos” (Portugal).

Sobre o blog

Os petiscos, as bebidas, os balcões encardidos, as pessoas e tudo que envolve a cultura de boteco e outras histórias de bar.