O triste fim de um food park e o que isto pode nos ensinar

(Crédito: Instagram)
No dia 31 de julho, a Vila Butantan encerrou as atividades, depois de cinco anos em que ocupou o terreno do número 47 da Rua Agostinho Cantu, bem ao lado da ponte Eusébio Matoso, zona Oeste de São Paulo. No mesmo local havia funcionado por pouco mais de um ano o Butantan Food Park, o primeiro "parque" dedicado à comida de rua e que reunia food trucks e barracas de comida num só espaço.
Talvez tenha sido o capítulo derradeiro de uma história que poderia ter tido um início e uma vida mais felizes para a cidade de São Paulo, sem que precisasse haver um fim ainda que esse fim, possivelmente, tenha sido consequência da pandemia.
Para explicar esse meu raciocínio, volto no tempo, ao dia 6 de maio de 2014. Naquela terça-feira, o prefeito Fernando Haddad assinou o decreto que definia as regras para a venda de comida nas ruas de São Paulo, legislação que ficou popularmente conhecida como "lei do food truck".
Da noite para o dia, dezenas de food trucks passaram a ocupar as ruas da cidade de São Paulo, principalmente nas zonas Oeste e Sul. Alguns deles pertenciam a chefs ou restaurantes conhecidos, que investiram alguns milhares de reais na compra e na montagem dessas cozinhas sobre rodas.
A chegada dos food trucks trouxe um fenômeno, e um equívoco, em sua gênese: a gourmetização da comida de rua. São Paulo ganhou food truck especializado em saladinha gourmet vendida a 30 reais, food truck de hambúrguer gourmet a 25 reais, food truck de bolinho de carne gourmet a 25 reais – preços praticados em 2014, é bom lembrar.
Acontece que comida de rua é algo que deve ser simples, rápido e barato. É bom lembrar também que a ideia dos food trucks em São Paulo teve lá sua inspiração na experiência de outras cidades, como Nova York e Berlim. Quem conhece a Big Apple sabe: a cada esquina existe um food truck estacionado, onde é possível comer de tudo um pouco, de hot-dog a taco mexicano. A diferença? Simples: você come e paga pouco pelo que comeu.
Em Berlim, pra ficar em outro exemplo, acontece o mesmo: você desembolsa 2 ou 3 euros em quiosques de rua por um sanduíche de linguiça ou por um kebab. E sai satisfeito. Se estiver a fim de uma experiência mais, por assim dizer, gourmetizadora, o cidadão nova-iorquino, o berlinense e o paulistano dispõem de restaurante excelentes.

Panela na Rua, em São Paulo (Crédito: Instagram)
Voltando a São Paulo, a lei dos food trucks, porém, teve um ponto muito positivo, que foi o surgimento das feiras gastronômicos modernas de rua, também com a presença de chefs, e a redescoberta das antigas, como a Feira Kantuta, repleta de receitas bolivianas no bairro do Pari e a Feira da Liberdade, ambas aos domingos; e a Feira da Praça Benedito Calixto, em Pinheiros, aos sábados, que chegou a ganhar a companhia do Panela na Rua, uma espécie de food park instalado no número 85 da praça.
Assim como o Butantan Food Park, esse Panela na Rua e o Pátio Gastronômico, para ficar apenas em três espaços do gênero, ocupavam áreas particulares. Legal que houvesse esses espaços privados, até porque o desafio de vencer a burocracia municipal para a ocupação organizada de vias públicas por iniciativas dessa natureza requer paciência e obstinação.
No fim das contas, aos muitos envolvidos no fenômeno dos food trucks e ao que veio a reboque faltaram uma volta à essência – preparar e vender comida de rua boa e barata – e uma estratégia bem pensada de ocupação das praças, dos largos, dos calçadões, do espaço público em geral por empreendedores, sejam eles chefs estrelados ou cozinheiros anônimos, devidamente regulamentados e pagadores de impostos à cidade.
Aos empreendedores das gastronomia e aos candidatos à prefeitura nas próximas eleições, que tal pensarem a respeito?
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