Drive-thru? Que nada. Aposte no walk-thru e ajude os pequenos comércios
Em tempos de quase supremacia e conveniência dos serviços de delivery, volto-me para a resistência do pegue-e-pague, do take-away. Uma espécie de walk-thru, essa forma de consumo está na essência dos carrinhos, quiosques, trucks e portinhas que servem comida de rua em todas as partes do planeta. De São Paulo a Nova York, a capital mundial do brown bag, aquele saquinho de papel craft com o qual os apressados costumam embalar seu almoço cujo tempo de compra e consumo costuma ser exíguo.
O walk-thru, vamos chamá-lo assim, é uma alternativa de atendimento que valoriza o pequeno comércio de bairro, do boteco à farmácia, movimenta e oferece uma dose gratuita de vitamina D a nossas carcaças tão bronzeadas por lâmpadas de LED neste 2020.
Por falar em Nova York, não posso deixar de compartilhar aqui um fato que ocorreu comigo em 2005, quando parei para comer um hot-dog de 1 dólar em frente à loja da Levi's na 7th Avenue (Broadway). Puxei conversa com o dogueiro, um paquistanês. Ao ouvir de mim que eu era brasileiro, ofereceu-me um segundo sanduíche, de graça. Decerto ficou com pena da minha cara de mochileiro de país subdesenvolvido. Existe amor em NY.
Como podem existir amor, máscara, álcool gel e distanciamento social também ao redor dos tabuleiros de acarajé, cocada e abará em Salvador; das barracas de pastel nas feiras livres de São Paulo; das bancas de tacacá em Belém e Manaus, para ficarmos em alguns exemplos.
Esses estabelecimentos – e seu walk-thru – têm intersecção com a botecagem na medida em que oferecem uma boa relação entre preço e qualidade pelos produtos que comercializam já que dispensam maiores preocupações com pompas no serviço (o que não precisa excluir a gentileza com a freguesia, é bom lembrar).
Pensei nisso quando, dias atrás, avistei da janela do carro uma portinha no meio do quarteirão da Rua Dr. Renato Paes de Barros, entre a Itacema e a Pedroso Alvarenga, com placas e fotos de kebabs, caftas, quibes e esfihas na fachada. Dei a letra para minha mulher, que um tempo depois trouxe o jantar comprado ali no Malakut, o microrestaurante árabe que tem as vitrines e estufas voltadas para a calçada. Gostei muito do que comi: ótimas esfiha de carne e "canoa" de carne com queijo, uma esfiha em forma dessa milenar embarcação (7 reais), bom quibe (7 reais) e um delicioso kebab de faláfel (23 reais).
No centro, é bom lembrar, o ótimo A Casa do Porco já atende pela janelinha Comida Rápida, diretamente na calçada, aqueles que buscam um misto quente, um sanduíche de porco assado ou um vegetariano.
Belo Horizonte e Rio de Janeiro são as capitais brasileiras dos botecos ao estilo "bunda de fora". São vários, entre os quais eu destaco o Bar da Lôra, no inigualável Mercado Central belorizontino, que em geral é meu ponto de chegada e de partida nas viagens a BH. A porção de linguiça com jiló é minha pedida de sempre, embora, confesso, costumo comer ali mesmo.
E quando tudo isso passar e eu puder regressar a Lisboa, certamente irei ao Quiosque de São Paulo. Conduzido pelo chef André Magalhães, da incrível Taberna da Rua das Flores, onde comi uma memorável língua de bacalhau, é um quiosque à moda antiga, nas palavras do chef, que revisita as clássicas sandes (sanduíches) de torresmo, de lula frita. Há também aperitivos e xiripitís à moda dos botequins e licoristas da Lisboa antiga.
Que bom seria termos algo do tipo aqui em São Paulo, gerido por pequenos empresários e bons cozinheiros, em praças e ao lado de bancas de jornais e de revistas. Já pensou?
Vai lá:
Bar da Lôra. Mercado Central de Belo Horizonte (Avenida Augusto de Lima, 885, centro).
A Casa do Porco. Rua Araújo, 124, centro, São Paulo.
Malakut. Rua Dr. Renato Paes de Barros, 187, Itaim Bibi, São Paulo.
Quiosque de São Paulo. Largo de São Paulo, Lisboa, Portugal.
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