Impeachment, política e polarização: mesa de bar é lugar para discutir, sim
Quem diz que política e religião não se discutem, de duas, uma, pode ter certeza: ou esse fulano se arrependeu das brigas no grupo de WhatsApp ou nunca viveu a emoção de ter levantado a voz e quebrado o pau numa mesa de bar, na defesa do seu político de estimação (ou ainda, vá lá, do voto nulo).
Nesta semana em que a câmara dos deputados nos Estados Unidos aprovou o afastamento do presidente Donald Trump e que, cá no Brasil, o deputado Rodrigo Maia, presidente da Câmara, soltou um balãozinho de ensaio ao falar que "a vacina pode levar a um processo de impeachment no futuro", lembrei dos tempos em que ainda não existia bancada da cloroquina mas nos quais os bares já tomavam partido.
No longínquo dia 29 de setembro de 1992, num Brasil muito menos polarizado do que o atual, a votação do impeachment de Fernando Collor na Câmara dos Deputados era uma barbada. Parecia dia de jogo do Brasil em Copa do Mundo. E foi: o caçador de marajás perdeu por 441 votos contra 33.
Em São Paulo, assim que saiu o resultado, o dono do Empanadas Bar pagou uma rodada de cerveja aos fregueses que acompanhavam a votação pela TV instalada no salão, conforme havia prometido em reportagem da Folha de S. Paulo: "No Bar das Empanadas, na rua Wizard, a TV vai estar ligada. A casa promete uma rodada de cerveja de graça se o impeachment for aprovado", dizia o texto. Tradicional boteco na Vila Madalena, o Empanadas sempre foi frequentado por um público engajado em cultura e política, entre os quais cineastas, universitários e jornalistas.
Logo depois das eleições de 2018, a polarização política fez com que Belo Horizonte ganhasse dois bares, respectivamente "de direita" e "de esquerda", ambos inaugurados em 2019. Localizado no bairro do Cruzeiro, O Destro tinha paredes decoradas com fotos de gente associada à direita, como o jornalista Alexandre Garcia, mantinha um estande de tiro e, como suvenir, o Pixuleco, aquele bonequinho inflável com a imagem do ex-presidente Lula vestido de roupa de presidiário.
Presidente Lula, por sua vez, é um dos rótulos de cerveja vendidos no Ursal, o boteco instalado no bairro de Santa Efigênia e adotado pela esquerda belorizontina.
Como atualmente vigora o lockdown em Belo Horizonte, essa pilsen artesanal só está disponível para delivery (custa 17 reais), assim como camisetas (40 reais) e outros suvenires. No cardápio, suspenso temporariamente por causa da pandemia, há opções como o marighela (bolinho de bacon), a porção foice e martelo (picanha com batatas fritas) e o marmitão do Luiz Inácio, composto de pão com mortadela e duas doses de cachaça.
Por falar em pandemia, em setembro do ano passado o empresário argentino Ignácio Preti proibiu a entrada de políticos nas três unidades de seu bar Bilbao, na cidade de Santa Fé.
Em quinze dias, quando retomarmos nossas atividades gastronômicas, todos os políticos ou funcionários que tenham relações com eles, de qualquer partido que sejam, estarão proibidos de entrar"
Foi o que ele informou à época, revoltado com a crise sanitária e econômica decorrente das restrições implementadas pelo poder público local para o combate do coronavírus.
O Bilbao segue aberto diariamente até meia-noite e meia. O Destro fechou em definitivo. O Empanadas resiste à pandemia, vendendo suas boas empanadas no salão ou para entrega (12,50 reais). O Ursal busca um ponto para abrir uma filial em São Paulo. Fernando Collor cumpre o segundo mandato como senador pelo estado de Alagoas.
Vai lá:
Bilbao Café. Boulevard Galvez y Dorrego, Santa Fé, Argentina (mais dois endereços).
Empanadas Bar. Rua Wisard, 489, Vila Madalena, São Paulo.
Ursal Bar. Avenida do Contorno, 3479, Santa Efigênia.
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