Os acertos e as furadas das previsões para reabertura dos bares na pandemia
Desde o fim de semana, a cidade de São Paulo e outras regiões do estado nas quais vivem 76% da população paulista estão na fase verde do plano governamental de enfrentamento ao covid-19. Para bares e restaurantes, isto significa que já podem funcionar até as 23 horas e com 70% da capacidade.
É, sem dúvida, um avanço, mas a situação atual, com cerca de 700 casos notificados por dia no Estado, requer máxima atenção por parte de todos. Ninguém quer que o chuá da segunda onda que vem solapando a Europa cruze o Atlântico, certo?
Cinco meses atrás, cerca de 45 dias depois que o governo de São Paulo decretou a quarentena, e, portanto, quando os estabelecimentos gastronômicos ainda estavam fechados ou se preparando para adaptarem-se ao delivery, arrisquei-me aqui neste blog a fazer um exercício de futurismo, tentando imaginar 13 novidades que veríamos nos bares e restaurantes a partir de então.
Pois o futuro chegou. E será que acertei nas previsões? O que não consegui prever? O que é que ainda vale uma aposta?
Começo a revisão acrescentando um 14º item: o abre-e-fecha dos bares e restaurantes a partir de agora. Vamos ter de nos acostumar com isso, aqui em São Paulo e em qualquer lugar do mundo, ao menos até o dia em que a vacina vença o coronavírus.
Na última semana, 700.000 novos casos foram contabilizados na Europa, ou seja, 34% a mais do que na semana anterior e o número de mortes cresceu 16%, segundo a Organização Mundial de Saúde.
Com isso, os bares ao redor do continente voltam a ser fechados. Na Holanda, onde a segunda onda de propagação do vírus fez os casos crescerem mais de 60%, os bares devem ser fechados e só poderão reabrir daqui a duas semanas. Na República Tcheca, não podem ser reabertos antes de 3 de novembro. A partir dessa semana, também, a Inglaterra volta a fechar os pubs nas regiões em que o contágio por 100.000 habitantes é considerado alto, como é o caso de Liverpool, segundo o The Telegraph. França e Itália também anunciaram restrições ao funcionamento. Bad news…
Voltemos a maio:
Previsão 1: Junto com os engradados de cerveja, os caminhões de bebidas descarregarão engradados de álcool gel.
Realidade: Embora a Ambev tenha produzido álcool gel para doação durante o auge da pandemia, não parece que a empresa tenha vislumbrado a produção de álcool gel como um novo negócio. Por enquanto.
Previsão 2: Em cima da mesa, o frasco de álcool gel dividirá espaço com o paliteiro, os guardanapos e o galheteiro.
Realidade: Acertei em cheio. Frasco de álcool gel tornou-se item da cesta básica dos bares e restaurantes.
Previsão 3: Banheiros passarão a ter acesso individual. Numa parede do salão, um painel luminoso avisará quando estiver livre (luz verde) ou ocupado (luz vermelha), assim como ocorre nos aviões.
Realidade: Em termos. Há bares que restringem o acesso ao banheiro mas em outros a porta fica aberta. Cabe ao usuário decidir se compartilha o espaço com outras pessoas.
Previsão 4: Será o fim dos cardápios impressos: vamos receber o menu pelo what's app ou por meio de QR code. O pedido vai direto para a cozinha. O garçom vira um tira-dúvidas e, claro, traz o pedido à mesa.
Realidade: Ainda existem cardápios impressos mas a maioria dos estabelecimentos reformulou o cardápio, simplificando-o e tornando-o disponível via QR code.
Previsão 5: Garçom, cozinheiro, caixa: todo mundo vai passar a usar aquelas máscaras plásticas com visor.
Realidade: Ponto para mim. As máscaras com viseira de plástico são hoje peça incorporada ao uniforme das brigadas.
Previsão 6: Os pagamentos, por sua vez, serão cada vez mais digitais, por aplicativo ou QR Code.
Realidade: Acertei mais esta. Coincidência ou não, vem aí o Pix, o que os especialistas em finanças e economia apregoam como uma revolução nos meios de pagamentos.
Previsão 7: Saem as perguntas "com ou sem colarinho?" e "com gelo e limão?" e entra a nova: "máscara acompanha?".
Realidade: Tornou-se obrigatório por lei o uso de máscaras em todos os ambientes públicos.
Previsão 8: As mesas da calçada, aliás, e as das áreas ao ar livre serão ainda mais disputadas pela freguesia.
Realidade: Ao contrário do que eu previa, a instalação de mesas na calçada está proibida, embora a prefeitura de São Paulo tenha feito um teste no centro da cidade, por meio do projeto Ocupa Rua, em parceria com o bar A Casa do Porco.
Previsão 9: O balcão, esse lugar sagrado de conversa e reflexão, ficará parecido com a área de caixas das agências bancárias. Estaremos separados do barman e dos vizinhos por placas de vidro ou de acrílico. Do lado de lá do balcão, o barman nos passará a bebida por um buraco ou uma boqueta semelhante àquela pela qual a cozinha solta os pedidos.
Realidade: É um triste cenário que ainda vislumbro como provável. Por enquanto, em São Paulo está proibido beber ao balcão.
Previsão 10: É o fim da mania brasileira de fazer um puxadinho nas mesas; e nunca mais teremos amigo secreto ou comemorações com muita gente no bar – ou as mesas passarão a ser divididas por placas de vidro ou acrílico, conforme vimos naquele meme que circulou semanas atrás. Pelos menos os contatos por baixo da mesa poderão ser mantidos…
Realidade: Em São Paulo e na Inglaterra, só são permitidos grupos de até seis pessoas por mesa.
Previsão 11: As mesas ficarão mais distantes umas das outras – distância, aliás, prevista em lei: 2 metros uma da outra, com cadeiras distantes 1 metro umas das outras. Bistrôs parisienses é que sofrerão.
Realidade: A lei de distanciamento obrigatório entre as mesas permanece em vigor, inclusive no Leblon e na Vila Madalena.
Previsão 12: Teremos cronômetro na mesa, que vai marcar o tempo regulamentar em que poderemos ficar no bar antes de darmos nosso lugar ao próximo freguês. O que nos obrigará a adotar uma bem-vinda mudança de hábitos…
Realidade: Essa previsão não se confirmou, embora alguns bares e restaurantes, como o SubAstor, na Vila Madalena, só atendam mediante reserva.
Previsão 13: Frequentaremos mais de um bar por noite – enfim, uma boa novidade.
Realidade: Pode ser que essa peregrinação de bar em bar de fato esteja acontecendo, mas não à noite, já que em São Paulo o toque de recolher acontece às 23 horas.
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